Como ser ágil do jeito certo

Por Marcelo Szuster|
Atualizado: Jul 2023 |
Publicado: Jun 2020

Ah, o pensamento mágico… basta eu tomar aquele remédio e fico magro! Comprar aquele estimulador muscular elétrico e ficar sarado! Ou fazer aquele curso rápido de inglês e ficar fluente! Ou, quem sabe, adotar alguns ritos ágeis e aumentar absurdamente a produtividade dos desenvolvedores de meus times! Será que isso é ser ágil? 

Ser ágil não é sobre adotar ritos ágeis 

Primeiro, a mera adoção de ritos não irá causar a transformação. Pode até ser um catalisador, um guia inicial, mas, claro, a mudança para agilidade é muito mais profundaSer ágil é muito mais baseado em princípios, em atitudes, do que propriamente na execução perfeita – se é que existe tal parâmetro – de alguns ritos. Interessa muito mais entender o “Heart of Agile”, como diz Alistair Cockburn – deem uma rápida escutada no Enzimas #4 de “Os Agilistas”. Mas, não é desse erro que quero tratar aqui. 

Quero tratar do segundo erro, que é a falta de visão sistêmica. Definitivamente, parece que nosso cérebro não foi treinado para usar a visão sistêmica – provavelmente, nas Savanas, não interessava muito entender bem as correlações do ecossistema, mas sim fugir rapidamente de qualquer suspeita de um leão. 

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Ser ágil não é sobre rapidez 

Ao ouvir o ágil, fazemos uma associação quase imediata com rapidez, e em seguida, com desenvolvimento mais rápido. E, claro, desenvolvedores mais rápidos. Então, pulamos para a conclusão que, agora, com o ágil, faremos muito mais com as mesmas equipes – ou até mesmo com menos gente. Afinal, não é essa a promessa da agilidade? 

Devo dizer que não! A promessa da agilidade não é necessariamente ficar mais rápido, mas sim mais adaptativo. Ser ágil significa ser rápido no aprendizado. Um desenvolvedor não irá codificar mais rápido, nem um arquiteto irá arquitetar mais rápido, por agora estar dentro de um paradigma ágil. Peço, então, de uma vez por todas, que acabemos com essa ilusão de que a produtividade individual será aumentada como em um passe de mágica. 

Então, o que é ser ágil? 

No entanto, e aqui não quero parecer confuso, é possível sim ficar mais rápido, mas do ponto de vista de times, do ponto de vista da organização, do ponto de vista sistêmico. E por que? 

Pois, uma organização ágil irá reduzir work in progress, e ao fazer isso, automaticamente aumentará o throughput.  

Reduzirá o chaveamento de contexto de cada um, permitindo mais foco e, possivelmente, trabalhar no flow (ou seja, nesse sentido, é possível sim aumentar a produtividade individual – desde que, sistemicamente, se dê sossego a cada membro do time). 

Desperdiçará menos, priorizando itens que realmente fazem sentido do ponto de vista de negócio e que estão alinhados com o propósito de cada time. 

Será mais humilde, fazendo experimentos mais simples – mais fáceis de mudar, ou de jogar fora, se preciso. 

Sentir e responder às mudanças 

É muito curioso pensar que podemos ter membros de times extremamente produtivos – fazendo as suas “coisas” com extrema velocidade, entregando tudo que é solicitado – formando uma organização lerda, incapaz de responder às mudanças que percebe. Na verdade, incapaz até mesmo de perceber a realidade. Todos eficientes, todos batendo suas metas locais, todos muito apertados e estressados. Mas, para um observador externo, ainda sim, uma empresa incapaz de ser dinâmica.  

 E que, por outro lado, podemos ter membros de times trabalhando com calma, com foco. Podendo fazer alguns experimentos. Alguns membros até um pouco ociosos, podendo usar o tempo de forma criativa. Tendo espaço para trocar ideias, para voltar atrás. Perseguindo um resultado de longo prazo, e sabendo que serão avaliados pela jornada como um todo, não por eventuais tropeços. Vivendo até bem… e felizes! No ambiente corporativo! E observadores externos impressionados com a capacidade dessa empresa de sentir e responder. 

Portanto, ao pensarmos no ágil, precisamos pensar nos efeitos sistêmicos, nas relações entre pessoas e times, no ambiente, na liderança. A agilidade será uma propriedade emergente, que certamente não se encontra em cada indivíduo, muito menos em indivíduos com metas locais. 

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